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Receita extra deve encolher nas usinas de cana de açúcar

25.02.2016


As usinas de cana do Brasil terão uma queda nas receitas com a energia elétrica neste ano, diante de projeções de baixos preços no mercado spot de eletricidade que desestimularão vendas, após a cogeração ajudar a aliviar balanços do setor em 2015, afetados pela redução nas cotações do açúcar. As usinas geralmente produzem energia para atender ao consumo de suas próprias caldeiras, mas muitas delas possuem também contratos de longo prazo para vender parte da geração às distribuidoras de luz, além de poderem ofertar o que sobra no mercado spot. Esta última fonte de receita, contudo, está secando, pois o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) utilizado nas operações spot deverá ficar em R$ 30 por megawatt-hora em 2016 e até meados de 2017, segundo projeção da Câmara de Comercialização de Energia Elétricas (CCEE), ante média de R$ 288 em 2015 e de R$ 690 em 2014. "As usinas estavam queimando qualquer coisa (nas caldeiras para gerar energia) porque o preço alto justificava. O preço altera a viabilidade dessa geração extra por parte dos usineiros", disse o diretor da consultoria especializada em preços de energia Dcide, Patrick Hansen. Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), já é possível notar uma desmobilização desses esforços das usinas por mais produção de eletricidade. "Com o PLD em R$ 30, essa operação de geração adicional acabou sendo desmontada. Em janeiro, as usinas já geraram 17% menos que em janeiro de 2015. Não há estímulo para essa geração extra", disse o gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza. A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, já apresentou redução de 10% na receita com cogeração de energia entre outubro e dezembro de 2015, ante gual período de 2014, para R$ 167 milhões, segundo balanço divulgado na semana passada. Na época, o PLD variou em média entre R$ 212 e R$ 116, ante uma média próxima dos R$ 727,50 no último trimestre de 2014. O diretor da comercializadora de energia Delta, Geraldo Mota, disse que usinas com sistema de condensação conseguem gerar energia a um break-even de cerca de R$ 30 por megawatt-hora, enquanto sistemas de contrapressão produzem a custo de R$ 50 de megawatt-hora, considerando o uso de bagaço próprio. Mota também estimou que os preços spot devem continuar baixos "nos próximos três ou quatro anos", dada a expectativa de pouco crescimento da demanda por energia em um cenário de baixa atividade econômica. "As usinas vão produzir o mínimo (de energia) necessário para atender os contratos de açúcar e alcool.. Isso cria até um incentivo para as usinas de cogeração pararem de produzir e passem a comprar energia no mercado", disse. Ajuda Zilmar, da Unica, lembrou que a geração de caixa com energia ajudou a indústria em uma época de preços baixos do açúcar. "Em 2014, início de 2015, a energia ajudou a melhorar a receita média do setor sucroenergético; o setor pensa num portfólio açúcar, etanol e energia", explicou. A mudança de cenário já reduziu a procura por compras de biomassa, que estiveram em alta nos últimos anos conforme os usineiros tentavam produzir energia acima dos contratos. Além do bagaço de cana, mais comum, as usinas podem queimar outros materiais para a cogeração, como casca de arroz e madeira. "Muita empresa com excedente de madeira, que vendia, hoje está ficando com isso estocado. Ninguém tem interesse em comprar essa madeira excedente para queimar", disse Mota, da Delta. Ele estimou que a geração com biomassa comprada de terceiros pode ter um custo de entre R$ 100 e R$ 200 por megawatt-hora, dependendo do sistema da usina, um patamar inviável diante dos preços atuais. A Unica estima que as usinas a biomassa tenham produzido 22,6 mil gigawatts-hora em 2015, ou 5% da demanda do País.

Autor: Fonte: Jornal do Commercio (RJ)

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