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Película gera energia solar a partir de onde é aplicada

03.02.2017

A startup brasileira Sunew aposta em uma tecnologia pouco conhecida no País e no mundo para explorar o mercado de fontes renováveis de energia elétrica. A empresa mineira desenvolveu uma película capaz de gerar energia solar a partir da superfície onde é aplicada. Por ser aplicável aos vidros de veículos, de fachadas verticais de prédios e de pontos de ônibus, por exemplo, a película mostra mais versatilidade que os painéis solares, segmento já dominado por empresas de maior porte, principalmente da China. A Sunew desenvolveu o filme plástico OPV (do inglês organic photovoltaic, ou fotovoltaico orgânico). Feito à base de substrato de resina PET (sigla do polímero polotereftalato de etileno), o filme recebe uma camada de uma tinta composta por células fotovoltaicas para converter energia solar em eletricidade. O CEO da startup, Marcos Maciel, diz que o material é leve, flexível e transparente, mas pode ser impresso em várias cores. Em razão dessas características, é possível aplicá-lo em muito mais superfícies se comparado ao tradicional painel de silício, que é maior e mais pesado, compara. As possibilidades são inúmeras. A impressão no filme feito de PET é feita por meio de uma impressora rolo a rolo adaptada. A capacidade média de geração energética de cada folha plástica é em torno de 40 watts de potência, informa. Criada em conjunto com a farmacêutica alemã Merck, a tinta semicondutora é feita à base de carbono. Ela libera elétrons e forma a corrente elétrica que é ligada à rede do usuário. "Depois de gerada, a energia pode ser usada naquele momento, armazenada ou disponibilizada na rede da concessionária para a obtenção de créditos e desconto na conta de energia elétrica", explica Maciel. Pesquisa e desenvolvimento Para chegar ao desenvolvimento do produto, a Sunew contou com o apoio de pesquisadores de onze nacionalidades diferentes. As pesquisas começaram em 2011, por meio do apoio da unidade brasileira do Centro Suíço de Eletrônica e Microssistema (CSEM Brasil), do fundo de investimentos FIR Capital, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Tradener e da CMU. Em outubro de 2015, a startup derivada do projeto iniciou suas atividades. Desde o início das pesquisas, a Sunew recebeu R$ 100 milhões em aportes para o desenvolvimento da película OPV no Brasil. A tecnologia vem sendo maturada ao redor do mundo há pelo menos duas décadas. Segundo Maciel, é um mercado gigantesco, que poderá gerar para a empresa, daqui a dois ou três anos, uma receita superior ao montante já investido no negócio. Neste nicho, o Brasil corre em pé de igualdade com potências como Alemanha, Estados Unidos e Japão, diz o empreendedor. "Poucas empresas estão no mesmo estágio que a gente. Hoje o Brasil está na linha de frente da alta tecnologia de OPV", afirma. Custos de implantação Para o usuário final, o custo de adotar a película solar em geral é mais elevado que o do painel de silício. O preço também pode variar de acordo com o projeto. Isso porque, além do produto, a Sunew oferece serviços personalizados, como fazer a aplicação conforme a necessidade de cada cliente. Mas, devido ao alto valor agregado do produto, os serviços não são prioridade. A startup se concentra no momento em atender mais empresas, mas não descarta e até estuda a produção de versões próprias para o varejo em um futuro próximo. A tecnologia poderia ser usada, por exemplo, em capas de celular. Para o CEO, a tendência é que em dois anos os preços recuem. "Vejo dois momentos para o OPV, o primeiro como substituto do silício em lugares em que este não pode ser aplicado, e, num segundo momento, com ganho de escala, uma competição direta com esse painel solar tradicional", diz. Perspectivas de mercado O primeiro grande teste de aplicação dos filmes OPV será feito em São Paulo, na fachada do novo prédio da desenvolvedora de softwares de gestão Totvs. O edifício, com previsão de entrega neste mês de janeiro, terá 4 mil metros quadrados do revestimento. O logo da empresa na fachada também será um gerador de energia. A expectativa é que a energia produzida a partir do filme mantenha em funcionamento cerca de dois mil computadores da empresa. Além disso, com a película a companhia deixará de emitir na atmosfera 500 toneladas de CO2 (dióxido de carbono) por ano em decorrência da redução no uso do ar condicionado. Isso porque o filme bloqueia os raios UV e infravermelhos, deixando o ambiente mais fresco. De olho também no setor automotivo, há dois anos a Sunew trabalha com a Fiat para a integrar a película ao teto dos carros. Além de reduzir o consumo de combustível e as emissões de CO2, o filme geraria a energia necessária para, nos dias quentes, manter um ventilador funcionando com o carro desligado.

Autor: DCI (SP)

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