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Crise hídrica: Sistema terá como atender à demanda por energia, diz ONS

17.09.2021


O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está mais otimista com a capacidade do país de passar pela crise hídrica. Apesar dos desafios do cenário de escassez de chuvas, o órgão responsável pela coordenação das usinas e linhas de transmissão de energia acredita que o sistema vai ter plena condição de atender à demanda de energia nos próximos meses graças às medidas que foram tomadas até agora, disse ao Valor o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.

A previsão se baseia em ações como a gestão dos reservatórios de hidrelétricas, a antecipação de obras de geração e transmissão e a flexibilização de critérios de transmissão de energia entre as regiões do país. Para Ciocchi, a rapidez na tomada de medidas mostra a diferença do cenário atual em relação à crise de 2001. Naquela época, segundo ele, as ações para lidar com a escassez de água começaram a ser tomadas quando já havia a necessidade de um racionamento.

Ciocchi participou no sábado da inauguração de uma linha de transmissão de energia elétrica em Janaúba (MG), que vai ampliar em 25% o escoamento da energia gerada no Nordeste para o Sudeste e o Centro-Oeste, as regiões mais afetadas pela baixa nos reservatórios das hidrelétricas. Segundo o diretor do ONS, esse era o projeto de transmissão que tinha maior urgência de entrada em operação para aliviar os riscos. Do lado da geração, Ciocchi aponta a termelétrica GNA I, no Porto do Açu (RJ), com capacidade de 1.300 megawatts (MW), como o projeto prioritário para ajudar o Sistema Interligado Nacional (SIN). O projeto no norte fluminense vai entrar em operação na quarta-feira.

Nota técnica publicada pelo ONS ao fim de julho indicava que o sistema poderia ter esgotamento de recursos em novembro, com necessidade de uso de reservas em outubro. Ciocchi disse que a previsão não considerava o sucesso de ações tomadas desde então: “A nota foi realista dentro do que se sabia naquele momento, mas com um viés conservador, que é o natural de um operador. À medida que passa o tempo as coisas vão se materializando, positiva ou negativamente”, afirmou.

Ciocchi aponta que houve boa adesão da indústria ao projeto de resposta à demanda, que permite aos grandes consumidores oferecerem ao governo uma redução no consumo no horário de pico da demanda em troca de uma bonificação. Para o mês de setembro, o primeiro do programa, grandes indústrias disponibilizaram uma redução de 237 megawatts médios (MWm) nos horários de pico.

“Não resolve todo o problema do setor, mas não é desprezível. Esse volume conta praticamente a partir da metade do mês. Provavelmente os mesmos ofertantes vão oferecer um volume pleno para outubro e novembro. Isso ainda não tinha sido feito no Brasil, então também está sendo um aprendizado”, disse Ciocchi.

Ainda assim, autoridades e especialistas não descartam a possibilidade de problemas no setor. No começo do mês, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, admitiu que “pode ser que tenha que ocorrer algum racionamento”. O ex-presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, afirma que há chance de interrupções pontuais no fornecimento de energia. A consultoria PSR prevê a necessidade de uso de reservas do sistema em 40% dos cenários, para Kelman, um percentual elevado.

O diretor do ONS acredita que a adesão da indústria ao programa de resposta à demanda vai crescer nos próximos meses, o que ajudaria ainda mais o sistema elétrico. Analistas apontam que o volume ofertado em setembro já vai ajudar a aliviar o sistema, pois equivale a quase metade de uma térmica de grande porte, como a UTE Araucária (PR), usina a gás natural com capacidade instalada de 484 MW que foi acionada para auxiliar o sistema em meio à crise, ao custo de R$ 1276,44 por MW. 

Ciocchi disse ainda que é cedo para saber os efeitos do Programa de Incentivo à Redução Voluntária do Consumo de Energia Elétrica, iniciativa que começou este mês e é voltada para pequenos consumidores. O ONS vai avaliar semanalmente a adoção da população à medida. A colaboração dos consumidores residenciais é considerada importante pois representa quase 70% de toda a demanda do país.

Para 2022, Ciocchi afirma que o cenário ainda é incerto e que as condições do setor vão depender das chuvas no período úmido, que começa no fim de novembro. As previsões indicam a ocorrência do fenômeno La Niña, que tende a levar a um baixo volume de chuvas no Sudeste e Centro-Oeste. “A vantagem é que já estamos contando agora com um cenário ruim, toda a chuva a mais que vier será boa”, afirma.

Ciocchi destaca também como "de grande importância” a iniciativa do governo de realizar leilões simplificados para a contratação de usinas térmicas por cinco anos, de modo a auxiliar na recuperação dos reservatórios.

Link Externo: target="_blank" href="http://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/09/13/sistema-tera-como-atender-a-demanda-por-energia-diz-ons.ghtml"

Autor: Gabriela Ruddy

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