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‘Inflação importada’ pesou no estouro da meta, diz Campos

03.02.2022


Os preços de commodities e da energia elétrica, somados aos desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos globais, foram apresentados pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, como “os principais fatores” que levaram a inflação do ano passado a estourar o teto da meta. O quadro, segundo ele, foi influenciado pela desvalorização do câmbio - que por sua vez também refletiu “questionamentos” sobre o “arcabouço fiscal”.

Essa foi a explicação dada por Campos em carta pública e direcionada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para justificar o fato de o IPCA ter encerrado 2021 em 10,06%. A meta de inflação do ano passado era de 3,75%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Sempre que a inflação fica fora desse intervalo, o presidente do BC é obrigado a escrever uma carta pública destinada ao ministro da Economia detalhando as razões para o comportamento dos preços no ano anterior. Campos foi o quinto a ter de cumprir esse rito. Também já precisaram dar explicações Arminio Fraga, Henrique Meirelles (duas vezes), Alexandre Tombini e Ilan Goldfajn.

Para levar a inflação novamente aos níveis estipulados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o BC vem promovendo aquele que já é o maior aumento da taxa real de juros desde que o regime de metas entrou em vigor, segundo Campos. Nessa trajetória, a taxa Selic já saiu de 2% para 9,25% ao ano, num ciclo que ainda não terminou e que agentes de mercado já veem chegar a quase 12%.

 

O presidente do BC atribuiu a alta dos preços, em grande parte, a efeitos da pandemia. “A aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes”, disse no documento.

Conforme cálculos apresentados, a “inflação importada” de outros países, ligada às commodities e ao câmbio, foi responsável por 4,38 pontos percentuais do desvio de 6,31 pontos percentuais em relação à meta. Na sequência, vieram outros dois fatores: inércia inflacionária de 2020 (responsável por 1,21 ponto percentual do desvio) e expectativas de inflação (0,25 ponto percentual). Já a bandeira tarifária de energia teve impacto de 0,67 ponto sobre a inflação.

Em sentido oposto, a ociosidade da economia atenuou a trajetória de preços. O impacto desse fator sobre a inflação foi negativo em 1,21 ponto percentual. “Houve uma combinação de choques de custos que foi contrabalançada parcialmente pelo hiato do produto negativo”, afirmou Campos.

O presidente do BC destacou que em dezembro a desvalorização cambial alcançou 9,83% sobre o mesmo mês de 2020, e atribuiu parte desse movimento à questão fiscal. “A tendência de depreciação na segunda metade de 2021 refletiu principalmente questionamentos em relação ao futuro do arcabouço fiscal vigente e o aumento dos prêmios de risco associados aos ativos brasileiros, diante da maior incerteza em torno da trajetória futura do endividamento soberano”, disse. Ele voltou a citar que houve “quebra no padrão histórico de apreciação da moeda nacional durante ciclos de elevação nos preços das commodities”.

Com esse contexto, o “BC tem calibrado a taxa básica de juros, e continuará a fazê-lo, com vistas ao cumprimento das metas para a inflação”. O Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou nova alta de 1,5 ponto percentual na Selic em fevereiro e considera “apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista”.

 

Atualmente, o BC mira com pesos iguais os anos de 2022 e 2023 para conduzir a Selic. As metas para o IPCA são respectivamente 3,5% e 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. “O aumento da taxa real neste ciclo é o maior ocorrido durante o regime de metas para a inflação”, disse Campos.

O cálculo leva em conta a Selic acumulada quatro trimestres à frente descontada das expectativas de inflação, com ambas as variáveis sendo extraídas do Focus e medidas em médias trimestrais. Assim, a taxa real anual de juros passou de patamar negativo de 1,3% no último trimestre de 2020 para patamar positivo de 4,4% no mesmo período do ano passado.

“Esse movimento significou a passagem da política monetária do campo expansionista para o território contracionista”, disse, lembrando que a avaliação leva em conta uma taxa neutra de juros em 3,5% ao ano em termos reais. A taxa neutra é a que não acelera nem desacelera a inflação. “Nessa trajetória, a taxa real aumenta para 6,3% e 6,4% nos primeiro e segundo trimestres de 2022, respectivamente.”

Segundo Campos, as projeções do BC “são de que a inflação entre em trajetória de queda já no início de 2022, terminando o ano em patamar significativamente inferior ao de 2021”. As estimativas da autoridade monetária são de IPCA em 4,7% neste ano e 3,2% em 2023.

“Portanto, o cenário é de convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante”, disse. Ele reconheceu que em 2022 a inflação se mantém superior à meta, “embora dentro do intervalo de tolerância”.

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