Menu

Notícias

Restrição na transmissão de energia afeta geração das usinas do Madeira

01.02.2023

As hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, localizadas no Rio Madeira, estão impossibilitadas de gerar energia na capacidade máxima e estão desperdiçando água. Só no dia 12 de janeiro, foram mais de 8,2 mil metros cúbicos de água não aproveitados por segundo. O motivo é a indisponibilidade em um dos circuitos do chamado Linhão do Madeira, que conecta as usinas ao Sudeste do Brasil.

Apenas como comparação, a quantidade de água não utilizada representa mais de cinco vezes e meia a vazão média das Cataratas do Iguaçu. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) diz que devido ao período úmido, com precipitação significativa, “é comum e necessária a manobra de abertura dos vertedouros de usinas hidrelétricas conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN)”.

Entretanto, as empresas dizem que o problema acontece por restrições do sistema de transmissão. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também confirma que o problema é de indisponibilidade do Polo 4 da subestação coletora Porto Velho, operada pela Interligação Elétrica do Madeira, constituída pela Chesf, Furnas e Isa Cteep.

A agência foi informada da situação no dia 12 de dezembro de 2022 e enviou ofício para a transmissora solicitando as providências tomadas e programadas para antecipar o retorno da operação. A perspectiva é que a fiscalização em campo nas instalações aconteça essa semana.

 

A energia é escoada para o Sudeste através de dois bipolos - sistemas de transmissão com duas linhas. Isso porque, para evitar blecautes, as autoridades energéticas projetam redes de transmissão que funcionam como uma espécie de "backup" para situações que resultem em interrupções. São as chamadas redundâncias, que podem ser um novo circuito, que acompanha uma linha existente, ou uma nova linha para atender a remanejamentos determinados pelo ONS.

A linha de transmissão de corrente contínua de alta tensão (HVDC, na sigla em inglês) é uma das mais longas do mundo e atravessa o Brasil, conectando a subestação Porto Velho (RO) à Subestação Araraquara-2, em São Paulo, para levar a energia das usinas. Jirau e Santo Antônio poderiam estar gerando mais não fosse a restrição na linha, mas por conta da redundância prejudicada, estão operando aquém do limite.

Como as usinas são a fio d’água, ou seja, não têm capacidade de armazenamento, é necessário liberar água que poderia ser usada para geração de energia, o chamado vertimento turbinável, no jargão do setor. O ex-presidente da Aneel, Edvaldo Santana, considera inaceitável a situação, já que essa época do ano é de alta vazão e Jirau e Santo Antônio deveriam estar em plena geração.

 

“A linha entrou em manutenção no final de dezembro e deve ficar parada por quatro meses. Não se trata de manutenção preventiva, já que isso é feito no período seco e estamos no período úmido. Deve ter ocorrido um defeito muito grave em um dos bipolos para precisar de correção em um momento em que essas usinas mais geram energia. As duas usinas estão vertendo desde semana passada. Jogando água fora que poderia ser usada para gerar energia”, diz.

Santana lembra ainda que a redução da geração nas hidrelétricas terá que ser compensada pela elevação da produção de energia de outras hidrelétricas, por meio do chamado Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), criado para minimizar ou eliminar risco hidrológico.

Um executivo do setor sob condição de anonimato contesta a versão do ONS. Segundo ele, as usinas não poderiam estar vertendo água, pois não atingiram o limite máximo e possuem capacidade de geração. “Em Jirau, por exemplo, a vazão está baixa e não atingiu a cota de 90 metros [para abrir as comportas] e o vertimento é por conta da restrição da transmissão”.

Com a limitação do sistema de transmissão do Madeira, se o outro bipolo sofrer algum tipo de avaria, as usinas terão a operação totalmente paralisada. Foi justamente o que aconteceu na semana passada, quando os ataques de vândalos deixaram indisponíveis 14 unidades geradoras das usinas. O ex-presidente do ONS, Luiz Eduardo Barata, lembra que estas usinas praticamente só geram energia no período chuvoso e as estruturas deveriam estar disponíveis para o atendimento.

Em nota, Jirau informou que a usina está atendendo a solicitação de despacho do ONS. As 22h do dia 12 de janeiro, a usina estava com uma vazão afluente com potencial de geração de 2.300 MW, porém em função de restrições do sistema de transmissão e das condições e necessidades do Sistema Interligado Nacional (SIN), a usina estava gerando 1.800 MW de energia.

Já Santo Antônio disse que com a vazão atual (13/01/23), a capacidade de geração é de 2.930 MW. “Face às restrições impostas no Sistema de Transmissão no Complexo Madeira, sob a coordenação do ONS e em atendimento ao Sistema Interligado Nacional, o despacho em Tempo Real da Usina é de 2.190 MW - uma redução de 740 MW”. A usina destacou ainda que os níveis dos reservatórios e a energia despachada são programados pelo ONS, responsável por operar o conjunto de reservatórios brasileiros de forma integrada, com o objetivo de garantir a segurança energética.

Procurada, a Isa Cteep, sócia majoritária da Interligação Elétrica do Madeira, não respondeu.

Link Externo: target="_blank" href="http://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/01/15/restricao-na-transmissao-de-energia-afeta-geracao-das-usinas-do-madeira.ghtml"

Autor: Robson Rodrigues e Fábio Couto

« VOLTAR