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Até 2050 a energia solar será a maior fonte de energia do mundo

13.03.2015


Devemos perdoar as pessoas que pensaram que o momento favorável à tecnologia limpa já havia passado. Nos últimos dois anos, nas bolsas de valores, muitos índices de ações de tecnologia limpa tiveram um desempenho fraco. Na Europa, a energia solar foi negativamente impactada depois que a Comissão Europeia decidiu eliminar gradualmente os subsídios à energia renovável em 2017. Em 2013, a instalação de painéis solares caiu quase 60% na Alemanha e 70% na Itália. Enquanto isso, no Reino Unido menos de 30% da fase inicial de financiamento via capital de risco para tecnologia limpa tiveram êxito. A verdade é que já estivemos antes nessa situação. As convulsões no setor de tecnologia limpa são só sintomas de um ciclo que caracteriza tecnologias emergentes: entusiasmo, expectativas exageradas e consolidação - por fim seguidas por estabilidade e retomada do crescimento. De fato, a recente tendência dá sinais de uma transformação muito mais significativa: a tecnologia limpa está se tornando comercialmente viável. A confiança no futuro do setor de tecnologia limpa está enraizada na necessidade de soluções sustentáveis para um planeta com uma população cada vez mais rica. Ao longo dos próximos 20 anos, o número de consumidores de classe média deve crescer para cerca de 3 bilhões, do atual 1,8 bilhão. Os novos estilos de vida exigirão recursos naturais, inclusive energia. A redução do número de participantes no mercado de tecnologia limpa foi severa; mas foi típica de tecnologias emergentes e, ao eliminar os participantes fracos, tornou o setor mais robusto. Esse é um segmento global que atende uma necessidade mundial crescente O grande aumento da demanda vai ocorrer quando encontrar, desenvolver e extrair novas fontes de energia e de recursos será cada vez mais difícil e caro. Nos últimos 12 anos, por exemplo, o custo médio real de construção de um poço de petróleo dobrou, e nos últimos anos novas descobertas de oportunidades de mineração têm sido poucas. Mas a tendência dos custos de energia limpa apontam para o sentido oposto, amadurecendo essas soluções num momento em que a necessidade está se tornando intensa. Uma questão crucial para o futuro das tecnologias limpas tem sido se elas necessitam apoio regulatório para prosperar. É verdade que a retirada de subsídios na Europa impactou duramente o setor. Mas, assim como a Alemanha e a Itália perderam suas primeira e segunda posição na classificação de novas instalações de energia solar, a China e o Japão assumiram seus postos. Em âmbito mundial, o setor de energia solar vem crescendo a uma taxa média anual de 57% desde 2006. Suporte regulatório foi eficaz na criação de demanda e permitir que as fontes de suprimento renovável atinjam escala. Mas esse apoio não tem sido sempre eficiente do ponto de vista econômico. Uma lição da experiência alemã é que mudanças regulamentares bruscas podem criar picos e vales de demanda que não são favoráveis a um setor ainda emergente. O maior risco não está no fato de que subsídios e outros estímulos venham a ser retirados, mas que a estrutura da regulamentação não venha a se adaptar à medida que o setor se desenvolver. Com o amadurecimento do setor, ficam mais frágeis as justificativas para apoio às políticas. E, de fato, a energia solar parece cada vez mais capaz de sobreviver sem ajuda regulamentar. Um mercado mundial expansivo contribuirá para nivelar o campo de disputa entre todas as opções energéticas. Durante os últimos cinco anos, dezenas de empresas fabricantes de equipamentos solares faliram, mas foram substituído por empresas mais sólidas, inovadoras e eficientes. Mais de um quarto da capacidade mundial acumulada de geração de energia solar fotovoltaica foi instalada no ano passado. A Agência Internacional de Energia, que era conservadora em relação às perspectivas para a energia solar, agora acredita que até 2050 ela já será a maior fonte de energia do mundo. Novos esquemas inovadores, tais como o lançamento de títulos e financiamentos de terceiros relacionados à tecnologia limpa, estão mudando o cenário. Um esquema de propriedade de terceiros - segundo o qual uma empresa instala e assume a manutenção dos painéis solares em troca da cobrança de uma taxa mensal ou de um preço fixo por unidade de energia -, ampliou os percentuais de adoção [da tecnologia] na Califórnia, financiando mais de dois terços das novas instalações em 2012 e 2013. De modo semelhante, novas parcerias com as grandes do setor - como a associação entre a Daimler e a Tesla ou a participação controladora que a Total assumiu na SunPower - estão reduzindo o custo de financiamento para empresas de menor porte. Enquanto isso, as empresas de tecnologia limpa estão se tornando mais sofisticadas e criativas. Todo um novo setor de atividade foi criado em torno do uso da tecnologia da informação para reduzir o consumo de energia. Algumas empresas, como a C3 Energia, oferecem aplicativos de software focados em eletricidade capazes de analisar redes elétricas para melhorar as operações da rede e utilização de equipamentos, aumentando os lucros. Hardware de redes inteligentes foram implantados na década passada, e à medida que as empresas determinam como usar "big data" e ferramentas de análise, isso irá tornar-se muito mais importante. A aquisição da Labs Ninho pelo Google por US$ 3,2 milhões mostra o valor que as empresas estão atribuindo a esse tipo de dados. Toda essa agregação resulta na formação de um setor que, estima a Bloomberg, atingiu US$ 310 bilhões em investimentos no ano passado. Esse não é um segmento de "nicho", mas um setor intensivo em ativos a caminho de uso generalizado. A tecnologia limpa está amadurecendo e adotando práticas de gestão comprovadas em operação, marketing, venda e distribuição. Cada vez mais, o setor está implementando abordagens que asseguraram êxito em outros setores, como redução de custos de compras e implementação de princípios enxutos na fabricação. Como essas empresas continuam a crescer em escala, haverá oportunidades adicionais para melhorias. A redução do número de participantes no mercado de tecnologia limpa foi severa; mas foi também típica de tecnologias emergentes e, ao eliminar os participantes mais fracos, tornou o setor mais robusto. Esse é um segmento mundial que atende uma necessidade mundial crescente. Há pouca margem para duvidar que o setor de tecnologia limpa viverá dias ensolarados à frente. (Tradução de Sergio Blum) Jon Creyts é diretor-gerente do Instituto Rocky Mountain. Martin Stuchtey é diretor do Centro McKinsey para Negócios e Meio Ambiente

Autor: Valor Econômico

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