Menu

Notícias

Antecipação de reajustes está na pauta das empresas

15.05.2015


O nível dos reservatórios e a situação do setor elétrico não estão na ordem do dia apenas de geradoras e distribuidoras de energia, mas também das concessionárias públicas e privadas de saneamento. Principal custo das operadoras, a energia elétrica já pressiona as contas dessas empresas, fazendo com que algumas discutam antecipação de reajustes ou abertura de diálogo com o poder concedente para negociar contratos que não contam com a cobertura desse custo extraordinário. A energia elétrica responde por cerca de 20% do custo das empresas. Desde o início do ano, o governo cortou os subsídios do Tesouro para as contas de luz, enquanto o acionamento das térmicas elevou os custos de compra das empresas que atuam na área. Muitas distribuidoras elevaram a tarifa em cerca de 40% nos primeiros meses do ano. Resultado: as empresas estão pagando mais pela energia, tendo de driblar parte desse aumento e abrindo diálogo com o poder concedente. O gasto com energia no grupo Águas do Brasil, consumida de janeiro a dezembro de 2014, foi de R$ 3,3 milhões. Com o acréscimo médio de 70% na tarifa, o valor subirá para cerca de R$ 5,7 milhões. "Em São Paulo e Rio de Janeiro, houve altas de até 75%. Com um aumento dessa magnitude, não tem o que fazer para reduzir esse impacto", afirma o presidente da concessionária, Claudio Abduche. Nos contratos em que não há previsão de repasse para as tarifas, a empresa inicia conversas sobre o reequilíbrio dos contratos. Para driblar uma parte desses custos, a concessionária tem usado geradores a diesel no horário de ponte, entre 18 horas a 21 horas e ampliado a troca de motores e bombas. Há receio com outro ponto: há um descasamento entre o reajuste aplicado no setor elétrico e o das concessionárias de água. Para Roberto Tavares, presidente da Compesa, concessionária que atua em 180 cidades de Pernambuco, a alta das tarifas pressiona o caixa do setor. Tavares, que também é presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), diz que no caso da empresa, a estratégia é trocar bombas e válvulas por equipamentos mais eficientes, além de reduzir o uso no horário de ponta. O presidente da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), Clecio Falcão, diz que os gastos com energia irão aumentar de R$ 3,5 milhões para R$ 5 milhões neste ano. A concessionária discute a possibilidade de reajustar suas contas de água e esgoto neste mês. Em 2014, o reajuste foi aplicado em julho. "Estamos estudando medidas como reduzir a operação de bombas no horário de pico, mas isso não é simples em um sistema coletivo, há questões técnicas envolvidas. Iremos propor que esse custo, que representa 20% das nossas contas, seja repassado." Uma outra preocupação: o nível baixo tem feito o Operador Nacional do Sistema (ONS) maximizar a preservação dos reservatórios das principais hidrelétricas, o que pode criar disputas entre as diferentes áreas que usam a água. Um exemplo está no Nordeste. No fim de março, um sistema de abastecimento em Alagoas operava abaixo da sua capacidade, pois uma das bombas da captação estava com sua produção reduzida em aproximadamente 50%, em decorrência da redução do nível do rio São Francisco pela Chesf. Para Jacy do Prado, sócio da BF Capital, as contas de luz irão se manter pressionadas no próximo ano também. "O cenário do setor elétrico ainda é muito complicado", observa. Parte da alta deve ser repassada aos contratos, a maioria deles estabelece fórmulas paramétricas em que a alta dos custos operacionais chega aos consumidores. "Há preocupação de que possa haver racionamento de energia no próximo ano, esse é um temor que assusta o segmento, porque na falta de luz há redução significativa de faturamento. Sem energia, há uma perda relevante do setor", observa. Prado frisa que muitas empresas demoram oito horas para restabelecer suas bombas quando falta energia por uma hora. Os reservatórios encerraram o período úmido abaixo de 35%, nível histórico mais baixo, o que tem feito analistas estimarem um risco elevado de racionar energia em 2016, caso as chuvas de verão não venham a partir do fim do ano.

Autor: Valor Econômico

« VOLTAR