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Ainda indefinido plano para novas usinas nucleares no país

16.03.2016


Cinco anos após o desastre na central nuclear de Fukushima, no Japão, atingida por um tsunami, o mundo dá sinais de ter superado o incidente e retomado a expansão da energia nuclear, que deverá ganhar novo impulso com os compromissos firmados no Acordo de Paris, em 2015, para limitar o aumento da temperatura do planeta. De acordo com dados da Associação Mundial Nuclear (WNA, na sigla em inglês), 440 novos reatores nucleares estão atualmente em construção, e outros 510 em projeto, em todo o mundo. No Brasil, porém, o governo ainda não definiu os próximos projetos. A única usina nuclear em construção, Angra 3, está com as obras paradas desde setembro do ano passado, por falta de pagamentos e investigação de irregularidades. A obra está prevista para ser concluída em 2021. O problema, alerta o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Antonio Müller, é que o custo da energia nuclear aumentou nos últimos cinco anos, devido às medidas de segurança exigidas pós-Fukushima, e viabilidade econômica dos projetos exige escala e um programa contínuo. Segundo ele, o custo de implantação da energia nuclear na Coreia do Sul, por exemplo, é de US$ 1,7 mil por quilowatt instalado. Em um país que ainda não detém a tecnologia, esse custo pode chegar a US$ 5 mil por quilowatt. Quase todos os países que haviam paralisado seus programas de expansão de energia nuclear, após o acidente em Fukushima, retomaram os planos de construir usinas, com exceção da Alemanha, que mantém a decisão de desativar todos os reatores até 2023. Segundo Müller, entre os países que voltaram a investir no setor, estão Estados Unidos, Reino Unido e o próprio Japão, devido à necessidade de aumentar a oferta de energia, sem contribuir para o aquecimento global. Segundo ele, outros países, como Turquia e Emirados Árabes Unidos, decidiram instalar os primeiros reatores. No Brasil, a última informação oficial sobre a expansão de energia nuclear é a do Plano Nacional de Energia (PNE) 2030, lançado em 2007 e que deveria ser atualizado a cada cinco anos. O documento prevê quatro novas nucleares, além de Angra 3, até o fim da próxima década. Não há, porém, qualquer sinalização sobre a construção desses projetos, que levam cerca de dez anos, desde a tomada de decisão até o início da operação. Em 2008, o então ministro de Minas e Energia Edison Lobão, afirmou, no local onde seria iniciada a construção de Angra 3, que o Brasil deveria construir de 50 a 60 usinas nucleares até 2050. A declaração, porém, não se apoiava em nenhum documento oficial. Mais modesto, o atual ministro, Eduardo Braga, sinalizou no ano passado que deverão ser construídas 12 novas usinas até 2050, mas o plano do governo para esse período ainda não foi lançado. Para o diretor do Comitê Brasileiro do Conselho Mundial de Energia e presidente do Conselho de Energia da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Sergio Malta, será necessário abrir o setor para a iniciativa privada para que sejam construídas novas usinas nucleares no país. "O Brasil vai ter que colocar novas nucleares na matriz até 2050. E é preciso mudar a Constituição e permitir que agentes privados possam construir e operar essas usinas. O modelo estatal não está apto [para fazer os investimentos]", disse. Com relação a Angra 3, segundo especialistas, a interrupção das obras cria risco para a integridade das estruturas. Além disso, a paralisação eleva o custo de manutenção dos componentes. Antes da decisão de retomar a implantação de Angra 3, em 2007, a Eletronuclear, dona do empreendimento, desembolsava US$ 20 milhões por ano em manutenção e armazenamento dos equipamentos adquiridos no passado. Estima-se que esse custo hoje seja ainda maior. Segundo o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, Nivalde de Castro, a interrupção de Angra 3 é um problema político, sem solução à vista, corroborado pela queda da demanda, devido à crise econômica.

Autor: Valor Econômico

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