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Energia renovada (Editorial)

21.03.2016


Enfim uma boa notícia: permaneceram estáveis, pelo segundo ano consecutivo, as emissões de gases do efeito estufam lançados para gerar energia no mundo. Como o PIB global avançou mais de 3% em 2014 e 2015, conclui-se que teve início o chamado desacoplamento entre poluição climática e crescimento econômico. O aumento da produção sempre esteve acompanhado de maior consumo energético e, por consequência, do lançamento de gases como o dióxido de carbono (CO2), que retêm radiação na atmosfera e a aquecem, agravando o fenômeno natural do efeito estufa. A Agência Internacional de Energia mede as emissões globais há mais de 40 anos. Em apenas três momentos —no início dos anos 1980, após o choque do petróleo, em1992, como fim da União Soviética, e em 2009, na crise financeira mundial—elas haviam sido iguais ou menores que no ano anterior. O primeiro ano em que o produto mundial se expandiu emitindo a mesma quantidade de gases do efeito estufa foi 2014. Em 2015 observou-se o mesmo, o que leva muitos analistas a dizer que se iniciou um processo de descarbonização, objetivo do Acordo de Paris adotado em dezembro por 195 países. Só se pode crescer sem poluir mais de duas maneiras: alterando a matriz energética em favor de fontes menos intensivas em carbono, ou aumentando a eficiência da energia. No segundo caso, trata-se de obter os mesmos bens e serviços com menos eletricidade ou combustível, por meio de má- quinas e veículos aperfeiçoados. O maior impulso, contudo, parece vir de mudanças incipientes na própria matriz. Cai o consumo de carvão, o combustível fóssil mais poluente, e ganham espaço energias limpas, como a eólica e a solar fotovoltaica. Da energia nova que entrou em linha no ano passado no mundo, 90% provieram de fontes renováveis. É o processo dominante na China, maior poluidor mundial, que tem fechado minas de carvão e gerado cada vez mais eletricidade em usinas hidrelétricas, eólicas e solares. Nos EUA, segundo país que mais contribui para o aquecimento global, troca-se carvão por gás natural, um fóssil menos poluente. Outros países em desenvolvimento mantêm a velha conexão entre PIB e energia e compensam os ganhos obtidos alhures —daí a estabilização das emissões globais. Mas ficam para trás na inevitável corrida pela descarbonização.

Autor: Folha de S. Paulo

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