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Potencial para crescer mais

01.04.2016


Crise é uma palavra que está longe de figurar no vocabulário do mercado livre de energia elétrica. Trata-se de um segmento que vivencia um novo momento, marcado por forte expansão do número de participantes nos próximos meses, todos em busca de redução de até 30% nas tarifas, pressionados que estão por uma conjuntura que combina recessão, alta de custos industriais e das contas de luz. Como reflexo desse novo cenário, espera-se crescimento do segmento de comercialização, pressão política para ampliação do ambiente de livre negociação e a possibilidade de abrir oportunidades futuras. Uma delas é de comercializadoras adquirirem fatias em geradoras para ofertarem diretamente contratos a seus clientes. Outra novidade é que as comercializadoras já se preparam para ingressar no mercado de gás natural, negociando suprimento diretamente com o governo boliviano. Uma consultora do mercado tem visto sua carteira de clientes crescer nos últimos meses, tendência que deverá se manter ao longo dos próximos quatro anos, período em que as contas de luz no mercado cativo devem se manter no patamar elevado. Em janeiro de 2015, a empresa mantinha 250 empresas em sua carteira, enquanto havia perto de 1,8 mil companhias que negociavam livremente seu fornecimento de energia. Um ano depois, a carteira dobrou, e a previsão é de que, até o fim deste ano, 4 mil empresas serão consumidoras livres no Brasil. "Fizemos em 12 meses o que levamos 15 anos", diz o sócio. O crescimento tem sido sustentado por supermercados, shoppings, pressionados pela necessidade de reduzir o custo de energia e também por fatores sustentáveis. já que consumidores especiais podem comprar energia de fontes renováveis e obter certificado. O potencial de crescimento ainda é alto. Nas contas da consultora, o mercado livre poderá chegar a 20 mil ou 30 mil empresas. "Entre 2012 e 2014, com a queda de 20% no mercado cativo das tarifas, com a MP 579, o mercado estagnou. Mas agora, com a disparada dos preços, poderemos ver uma migração muito forte anualmente, marcando uma nova tendência", aponta. A expansão também será estimulada por fatores regionais: no Paraná, por alguns anos, as tarifas de energia foram subsidiadas pelo governo estadual, o que não estimulava a migração para o mercado livre. A mudança do governador eliminou essa política. Já na região Norte, no início deste ano, a cidade de Manaus e a Zona Franca foram interligadas ao sistema nacional de transmissão, o que permitiu que as indústrias instaladas no polo industrial ganhassem essa nova opção. "Há um movimento que deve continuar nos próximos meses, porque as projeções são de que a energia deve se manter em um patamar elevado no mercado cativo até 2020", afirma a gerente de inteligência de outra consultora do mercado. Em paralelo, projetos de lei no Congresso começam a debater a expansão do mercado livre. Hoje, empresas com demanda contratada igualou superior a 500 kW, por unidade ou somatório de unidades com o mesmo CNPj, podem adquirir energia gerada por fontes renováveis, como hidrelétricas de pequeno porte (PCH), termelétricas a biomassa, fontes eólicas. Mas há pressão por mudanças, pela ampliação do mercado. As indústrias ainda devem avisar com seis meses de antecedência às distribuidoras sua intenção de migrar. A principal iniciativa - o projeto de lei n? 1.917/2015 - é defendida pelos comercializadores. Trata da ampliação gradual do mercado livre em etapas até 2022, quando a novidade também chegaria aos consumidores residenciais, marcando a abertura completa do mercado de energia elétrica a todos os cerca de 80 milhões de consumidores. Com base na portabilidade, a ideia vem do setor de telefonia, onde o consumidor pode escolher sua operadora apenas levando a comprovação das contas pagas na outra companhia telefônica que deseja abandonar. Seminários em Brasília e São Paulo têm sido feitos para difundir a proposta. As comercializadoras também apresentaram o fim do ano passado, ao Ministério da Fazenda uma ideia de aproveitar a sobra de energia atual em virtude da crise econômica e permitir que parte dela possa ser direcionada às 300 mil indústrias, que poderiam ter liberdade de comprar energia. Para Dirceu Azevedo, líder da prática de sustentabilidade da Accenture para a América Latina, como a sobreoferta de energia tende a persistir até pelo menos o próximo ano, os preços devem continuar pressionados para baixo, o que pode manter o movimento de migração para o mercado livre até o próximo ano. Para o consultor, o setor elétrico vive um momento de oportunidades, em que há diversos ativos à venda, sejam geradoras, transmissoras ou distribuidoras. "As comercializadoras podem se interessar em adquirir ativos de geração no futuro para vender energia para seus clientes", destaca. A expansão do mercado livre traz consigo a necessidade de discussão da ampliação da oferta para esse segmento. O modelo do setor elétrico, sancionado em 2004 pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, prioriza o atendimento ao mercado cativo. Nos leilões, 70% da energia gerada é direcionada ao mercado cativo, enquanto o restante é destinado ao ambiente livre de comercialização. Hoje os clientes livres respondem por cerca de um quarto da energia consumida no país, mas a intensificação da migração para o ambiente livre poderia aumentar esse percentual. Entre 2007 e 2011, consumidores livres alegavam dificuldade para contratar energia no ambiente por conta da priorização ao mercado cativo.

Autor: Valor Econômico

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