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Quando o sol ajuda

01.03.2017

Em 2010, quando Manoel de Menezes, de 68 anos, recebeu a visita de um funcionário da empresa de energia italiana Enel em sua casa, no murricípio de Tacaratu, em Pernambuco, não sabia ainda que enfrentaria a pior seca de sua. vida. Na época, a empresa precisava do aval de Menezes para instalar em - seu terreno quatro turbinas eólicas. Elas hoje fazem parte do maior parque híbrido de geração de energia eólica e solar em operação no Brasil. Trinta e quatro turbinas eólicas e 650 placas fotovoltaicas geram 91 megawatts de energia - o suficiente para abastecer uma cidade de 250000 habitantes. Menezes recebe 6000 reais por mês pelo arrendamento de suas terras, e isso lhe garante a sobrevivência desde que a lavoura de milho se tornou inviável pela falta de chuvas. "Essas torres foram minha salvação neste momento - sem água, sem empréstimo de banco e sem produção", afirma. O Nordeste concentra mais de 60% da geração de energia eólica e solar de todo o país. Essas fontes, porém, respondem por apenas 7% da matriz elétrica. A fonte solar representa uma fatia de menos de 1%, embora o Nordeste tenha uma das maiores áreas de irradiação solar do mundo. Para muitos especialistas, trata-se de um potencial econômico desperdiçado. Um estudo preliminar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) aponta que o potencial fotovoltaico do semiárido nordestino chega a ser sete vezes maior do que o total consumido em energia elétrica em todo o país em 2015 - mais de 3 milhões de gigawatts-hora. Para chegar a esse número, o levantamento considerou a instalação de painéis solares em pequenas propriedades rurais ao longo de quase 2 milhões de hectares de pastagens degradadas. "A água é um elemento essencial para a vida, mas quantos rios teremos de transpor para que o semiárido prospere?", diz Paulo Nobre, pesquisador do Inpe. O estudo ainda estima que a remuneração oriunda de 1 hectare de placas fotovoltaicas em operação ultrapasse 100 vezes o valor gerado por uma plantação de milho na mesma extensão - levadas em conta as variações de preço tanto do mercado de commodities quanto 'do mercado de energia. O cálculo hoje, porém, é hipotético, porque a lei brasileira não permite que uma pessoa física ,venda a energia gerada individualmente -embora já haja permissão para que essa energia seja conectada à rede e abatida da conta de luz. A ideia de que a energia solar pode se tornar um vetor de desenvolvimento regional começa a ser discutida pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Neste ano, o órgão aprovou a consulta prévia de seis empreendimentos desse tipo na região que poderão receber recursos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, administrado pela autarquia. "Com a queda do preço das energias renováveis, hoje não há por que o Nordeste não mirar sua economia nisso", diz Marcelo Neves, superintendente do órgão. "O Nordeste pode se tornar uma meca das energias renováveis do Hemisfério Sul."

Autor: Exame

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